sábado, 1 de maio de 2010

VILLA, Marco Antonio. Conclusão: o significado de Canudos e Apêndice: Euclides da Cunha e Canudos. In: ________Canudos: o povo da terra. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1999.

Alex Moura
Aluísio Gomes
Ático Soares
Gabrielle Lucena
Ermano Oliveira
Tásso Araújo

Várias foram as interpretações sobre a Guerra de Canudos, desde a do médico Raimundo Nina Rodrigues e o clássico de Euclides da Cunha à historiografia mais recente. O autor procura antes de colocar sua posição sobre o sentido de Canudos explicar tais argumentações, refutando-as, e trazendo questões para repensar o arraial do sertão baiano.
Os escritos de Euclides da Cunha colocam a comunidade liderada por Antonio Conselheiro como sebastianista, ideia que fazia dos conselheiristas defensores da restauração monárquica, já que o termo era usado para designar monarquistas. Não havia, como o sebastianismo pressupunha, a espera de alguém que salvaria o arraial. Villa coloca que a influência religiosa deve ser vista como o maior peso na formação da comunidade, com as reflexões teológicas de Conselheiro sendo bastante tradicionais.
As abordagens marxistas também apresentam problemas. Edmundo Moniz enxerga um socialismo utópico com influência de Thomas More, Fourier, dentre outros; opõe o Estado burguês latifundiário à comunidade socialista. Décio Saes, por sua vez, diz que o arraial era “adversário da escravidão” , mas sua experiência malogrou porque não havia relação com comunidades vizinhas. Rui Facó defendia que a religião é um invólucro para cobrir um fundo perfeitamente material.
Portanto, a luta sertaneja precisava se encaixar na teoria. Os marxistas encaravam a religião como “uma fachada que encobria as razões de ordem material: era a falsa consciência” . O autor refuta a visão marxista. Não havia circulação de obras como as de Thomas More no sertão; os sertanejos tinham condições de propor um modelo de sociedade baseado em seus próprios códigos sociais, não necessitando de inspiração europeia; havia propriedade privada; estabeleceu-se comunicação com comunidades vizinhas; e não podia existir luta contra a escravidão, já que a fundação de Canudos é de 1893. Canudos tinha suas especificidades e ia se consolidando como sociedade baseada, sobretudo, na vivência religiosa.
Também não se pode afirmar um milenarismo. A possibilidade de uma época em que todos os males seriam redimidos estava descartada, seus habitantes não se consideravam eleitos. Além disso, não há referência de liderança messiânica de Antonio Conselheiro e muito menos milagres, ideia comprovada com a entrevista feita por Euclides da Cunha feita com um garoto morador do arraial.
Outra visão analisada por Villa era aquela que opunha o sertão, inculto e incivilizado e litoral, civilizado e progressista colocada em Os sertões. Euclides da Cunha era de opinião que o sertanejo não possuía capacidade suficiente para escolher entre monarquia e república. Para Nina Rodrigues a guerra foi importante para incorporar o sertão à civilização, já que o sertanejo é monarquista e ainda seria por muito tempo devido à falta de capacidade mental para entender que naquele momento seriam guiados pela lei.
Canudos como quilombo. Quando da fundação da comunidade, a escravidão já havia sido abolição fazia cinco anos; além disso, apenas 14% da população do arraial era negra. Esta visão é carregada de anacronismo porque nega “a identidade da comunidade e sua importância na história do Brasil, só que agora travestida de uma visão supostamente radical” .
Convêm algumas questões. A população de Canudos tinha condições de “decidir” entre monarquia e república? Ou seriam monarquistas porque estavam realmente num estágio mental inferior? Até que ponto se pode discutir o peso de um dos dois sistemas para o arraial? Para Villa a religiosidade é o principal fator de coesão na comunidade.
A tese do autor é de que Canudos aparece como uma alternativa ao sertanejo, dentro dos códigos sertanejos, onde a cidadania era exercida com a proposta e construção de uma nova sociedade, abandonada pelo poder público, distante da Igreja, e à mercê dos grandes proprietários de terras. Era uma comunidade oprimida por todos os lados.
Canudos tinha adeptos fora do arraial, o que assustava as autoridades republicanas; já havia mais conselheiristas fora do que dentro da comunidade. O medo se espalhara na Bahia e chegou à capital da República, Canudos poderia ser o Brasil de dentro. Representava uma ameaça à unidade que a nova situação política pretendia dar ao país e a dizimação de cerca de 25.000 conselheiristas foi – para a manutenção do sistema – necessária.
Nem monarquista nem republicana. Canudos era uma alternativa para uma região abandonada pelo centro e necessitada de uma organização política e econômica, “significou a negação radical de uma sociedade marcada pelo racionalismo cientificista, pelo mandonismo e pela lógica do capital.”

Apud VILLA, Marco Antonio. Canudos: o povo da terra. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 238.
Marco Antonio. Canudos: o povo da terra. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1999, p. 238.
Idem, p.243.
Ibidem, p.244.

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